Sonho de motorista
Quando menino, um sonho.....
No início, há anos atrás, levando fé.
Depois, levando tudo o que podia: gente, banana, pedra, sapato,
cacau e sabe Deus o quê. Já perdi a conta dos quilômetros que já
percorri, das noites com chuva, neblina, farol alto, das despedidas. Uma
saudade tão grande que só eu sei com é difícil carregar. Também não
importa.
O que vai ficar na memória é um país que só quem vive nas estradas é
capaz de conhecer. Vi miséria, descarreguei fartura, encurtei
distâncias, rasguei fronteiras, enfrentei quedas de pontes, de planos
econômicos. Cidades nascendo, cidades crescendo, cidades desaparecendo. E
deixei para trás buracos que um dia São Cristóvão há de cobrir. Levei
toneladas de tecnologia, progresso, levei a tristeza da partida e a
alegria da chegada. E por que não dizer, que carreguei um pouco desse
país nas costas, sem nunca deixar ninguém no meio do caminho?
E o meu destino foi sempre o mesmo: trabalhar duro para colocar os
problemas no retrovisor e um futuro melhor no pára-brisa, porque para
mim, dificuldade é o melhor combustível, é o que me deixa sem vontade de
parar. Afinal, mesmo tendo feito tudo isso, não me sinto orgulhoso, é
apenas o meu trabalho. Pois aqui moro, vivo e sonho. [texto escrito por
Gilberto E. Chaves (MOTORISTA)].
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